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Especialistas alertam para forte estiagem na Amazônia que deve ocorrer em até 12 semanas

A seca histórica de 2023 impactou a indústria do Estado e implicou R$ 1,4 bilhão de custos extras às empresas

Volume de chuvas abaixo da média, calor excessivo e redução do leito dos rios fizeram o alerta dos especialistas do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) emitirem um alerta aos órgãos de defesa civil para a tomada de medidas preventivas contra o possível período de forte estiagem que deve ocorrer dentro de até 12 semanas.

De acordo com os estudos divulgados pela entidade, a região deverá passar novamente por uma seca violenta semelhante à de 2023, cujos efeitos mais imediatos, além da redução da navegabilidade nos rios, será sobre a economia da região.

O documento aponta que a logística será sentida tão logo a vazante alcance quatro metros no leito dos rios Solimões, Amazonas, Madeira e Tapajós, que somam juntos cerca de 4.695 quilômetros em extensão de hidrovias pelas quais, em 2023, foram transportadas 78,2 milhões de toneladas de cargas, somando 55% do que foi movimentado dentro do país desta forma.

Monitoramento

Nos últimos 12 meses até abril deste ano, o Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico registrava déficit de 27% nos volumes de chuvas.

Ainda de acordo com o estudo, hidrovias importantes como a do Rio Madeira são as mais impactadas com a descida das águas. “Se a cota atinge a marca abaixo de 4 metros, já se interrompe a navegação noturna. Conforme vai baixando, pode chegar à interrupção completa. A mesma coisa acontece na Bacia do Tapajós”, explicou o analista da Censipam, Flávio Altieri.

O nível dos rios durante a estiagem histórica do ano passado ocasionou a escassez de recursos e a interrupção das atividades econômicas, lembrou o professor Lucas Vitor Sousa – Foto: Baltazar Ferreira

Impacto

A sazonalidade da seca na Amazônia ocorre em etapas desiguais na região. Portanto, os indicativos variam conforme o período de estiagem, que costuma atingir o ápice nos meses de setembro e novembro.

“Sabemos que a estiagem é um fenômeno cíclico, sobre o qual não temos controle, mas  que podemos trabalhar medidas preventivas. O que se pode depreender da seca no ano passado é que, além das ações emergenciais, precisamos efetivamente de soluções estruturantes que reduzam os impactos sobre a economia”, alertou o economista e presidente do Sindicato dos Fazendários do Amazonas (SIFAM), Emerson Queirós.

A seca histórica no Amazonas, que durou até o fim do ano passado, impactou a indústria do Estado e implicou R$ 1,4 bilhão de custos extras às empresas, que diminuíram a produção diante da falta de insumos e da dificuldade para escoar os produtos finais.

“A escassez de recursos e a interrupção das atividades econômicas podem levar ao aumento do custo de vida na região”, enfatizou o subcoordenador do Programa de Pós-graduação em Economia da Universidade Federal do Amazonas (PPG-Eco/UFAM), Lucas Vitor Sousa.

Queda nas importações

Durante esse período, a cota de vazante do rio Negro alcançou 12,7 metros na régua de medição do Porto de Manaus, o menor nível em mais de um século.

Segundo dados do ComexStat, plataforma do Governo Federal sobre exportação e importação, isso afetou diretamente o volume de importações via fluvial, que fechou em queda de 83%.

Planejamento

O professor Lucas Vitor avalia que o rio é a principal via de acesso para a maioria das comunidades ribeirinhas mais isoladas, daí a necessidade de um planejamento para que os impactos sejam menores para essas populações.

Ele asseverou sobre a importância de se implementar sistemas de monitoramento dos níveis de água e a realização de obras de dragagem para facilitar o fluxo dos rios e manter os canais navegáveis.

“É preciso que se ofereça suporte aos locais que podem ser afetados, incluindo água potável, alimentos e assistência em saúde. A adoção dessas medidas é fundamental para mitigar os impactos da seca e assegurar a resiliência das comunidades ribeirinhas e da economia da região como um todo”, frisou o economista.

 

 

 

Por exemplo, o direito fundamental de ir e vir pode ser duramente afetado.  No ano passado, por exemplo, muitas crianças perderam aulas, algumas escolas, inclusive, tiveram que interromper suas atividades. No limite, as pessoas terão que migrar para outras localidades. Além disso, as comunidades que dependem da pesca podem ter sua produção reduzida, impactando assim o nível de renda.

É importante destacar também, que no Amazonas a navegação é crucial para o transporte de mercadorias. A seca pode interromper esse transporte, afetando a logística e o comércio.

 

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“A gente tem os efeitos do fenômeno El Niño que ainda interferem na região e mantêm o aquecimento do [oceano] Atlântico Norte e Sul que também interferem em pouca chuva na Amazônia.”

Segundo o superintendente de Operações de Eventos Críticos, Alan Vaz Lopes, os níveis de água e a vazão dos rios da Amazônia, embora tenham grandes volumes, são muito sensíveis à falta de chuvas. “Um pequeno déficit de chuva em determinado momento provoca uma grande redução de níveis de água e de escoamento dos rios. É por isso que a gente vê rios enormes tendo uma redução muito rápida nos níveis de água.”

Para os especialistas, . “Principalmente as populações mais isoladas são afetadas, porque, com rios sem navegabilidade, passam a enfrentar dificuldade de locomoção para aquisição de material de consumo”, explica Altieri.

 

Energia

O abastecimento de energia do país é outro setor sensível, já que a região concentra 17 usinas hidrelétricas responsáveis por 23,6% do consumo no Sistema Interligado Nacional. Embora outras estruturas de geração possam suprir uma eventual interrupção, o remanejamento sempre causa algum impacto para o país.

A sazonalidade da seca na Amazônia ocorre em etapas desiguais na região. Portanto, os indicativos variam conforme o período de estiagem, que costuma atingir o ápice nos meses de setembro e novembro. De acordo com Altieri, nesses meses, a atenção é redobrada, mas atualmente, ainda não há indicativo para maiores preocupações com o abastecimento energético.

“A maior parte das hidrelétricas está nos rios da Bacia Araguaia-Tocantins e, apesar de o nível estar mais baixo do que no ano passado, os níveis ainda estão satisfatórios para geração de energia”, afirmou Altieri.

Por outro lado, é necessário planejamento em termos de abastecimento de alimentos e água potável, já que a região tem 164 pontos de captação de águas superficiais que também podem ser afetados pela seca severa. “, acrescentou.