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CMA aprova a alíquota zero para os bioplásticos no PIM

O fruto movimenta a economia na região Norte, em um comércio que emprega milhares de famílias e garante o sustento de boa parte da população ribeirinha que atua no setor

A Comissão de Meio Ambiente (CMA) aprovou, na última sexta-feira (10), o projeto de lei do senador Plínio Valério (PSDB-AM) para incluir os plásticos biodegradáveis entre os produtos com alíquota zero de PIS/Pasep e Cofins sobre a importação e a receita da venda no mercado interno (PL 780/2022).

O projeto altera a legislação que estabelece a redução desses impostos para produtos como fertilizantes e farinha de trigo, e inclui também os bioplásticos (Lei 10.925/2004).

No momento em que ocorrem esses incentivos, temos o fortalecimento de uma cadeia produtiva importante para o agronegócio”, explica o presidente do SIFAM, Emerson Queirós

Para o Polo Industrial de Manaus (PIM), essas novas regras chegam em um momento propício, vez que a cadeia produtiva da castanha-do-Brasil (principal insumo para a fabricação do bioplástico no Estado) deverá ser adensada com o início das atividades de uma fábrica do setor neste ano.

O bioplástico originado a partir das cascas do fruto e das sementes da castanha-do-Brasil é uma alternativa escalável e de baixo carbono ao plástico derivado do petróleo (Foto: Henrique Xavier)

Produção verde

Plásticos biodegradáveis são materiais que se decompõem naturalmente no meio ambiente. Esse processo de decomposição ocorre quando microrganismos presentes no ambiente metabolizam e quebram a estrutura molecular do plástico biodegradável.

O maior obstáculo para a fabricação de bioplásticos ainda é o fato de a matéria-prima natural custar até o triplo da que é utilizada na fabricação do plástico convencional.

A biodiversidade da região amazônica pode, no entanto, ser a chave para a solução desse problema e mecanismo para o desenvolvimento de um bioplástico inovador e com melhor impacto socioambiental.

O bioplástico originado a partir das cascas do fruto e das sementes da castanha-do-Brasil é uma alternativa escalável e de baixo carbono ao plástico derivado do petróleo.

“No momento em que ocorrem esses incentivos, temos o fortalecimento de uma cadeia produtiva importante para o agronegócio e para o adensamento da economia verde no Estado”, explica o presidente do Sindicato dos Fazendários do Amazonas (SIFAM), Emerson Queirós.

Estimativa

A Fundação WTT (sigla no inglês para Tecnologias para Transformação do Mundo) que desenvolve um projeto voltado para a produção de bioplásticos no Amazonas estima que a produção poderá resultar em receita de R$ 20 milhões nos três primeiros anos, a partir de 2024.

No cenário regional, o uso de matéria-prima oriunda de produtos da floresta além de contribuir para o desenvolvimento econômico fomenta uma cadeia produtiva dentro da economia circular”, ressalta a economista Michele Aracaty

A instituição estima que a produção do bioplástico a partir da casca da castanha, no PIM, deva começar no fim deste mês de maio, e traz o potencial de gerar renda de R$ 4,8 milhões para as comunidades ribeirinhas envolvidas, além de uma redução de mais de 300 toneladas de CO2 emitido na cadeia de valor do fruto no mesmo período.

Especialista

Segundo a Prof. Dra em Desenvolvimento Regional da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Michele Lins Aracaty, o bioplástico em substituição ao produto tradicional (derivado do petróleo) fundamenta a sustentabilidade econômica do PIM, visto que impacta positivamente nas variáveis social, econômica e ambiental.

“No cenário regional, o uso de matéria-prima oriunda de produtos da floresta além de contribuir para o desenvolvimento econômico fomenta uma cadeia produtiva dentro da economia circular. A proposta possibilita o uso de todo o maquinário já existente na indústria tradicional, torna a indústria mais sustentável e tem melhor relação custo-benefício”, ressaltou a especialista.

O extrativismo da castanha no Amazonas, em 2021, foi de 11,7 mil toneladas, e foi liderado pelo município de Humaitá, no Sul do Estado, segundo o IBGE (Foto: Henrique Xavier)

Substituição

Numa previsão conservadora, a WTT prevê que o bioplástico pode substituir até 18% da produção de polipropileno convencional produzido no Brasil já no terceiro ano de sua chegada ao mercado, informa a instituição ao Carbon Report.

Para estabelecimento dessa bioindústria no interior do Estado, os próximos passos são a consolidação do galpão para o processamento inicial do ouriço em uma associação de produtores agroextrativistas no município de Lábrea, assim como a validação da logística de transporte para Manaus. Além disso, serão adquiridos os equipamentos e feitas as adaptações para testes.

Cinco comunidades do município de Lábrea estão envolvidas na etapa inicial de coleta e beneficiamento, mas há mais de 30 outras interessadas em integrar o projeto.

A produção extrativista da castanha no Amazonas, em 2021, foi de 11,7 mil toneladas, liderada pelo município de Humaitá, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O manejo viabiliza geração de renda para os locais, enquanto promove conservação de grandes extensões de da floresta.